terça-feira, 31 de março de 2009

Poema no Café (ou conversando sozinho na terra de fernando pessoa)

a europa está triste
o oriente a américa
você também está.
me encanta tanto um canto
uma alegria.
jorge luis borges disse
felizes os felizes
jesus também disse
mas foi mal traduzido.
o jornal quer tragédia
o telejornal quer sangue
ou quem assiste o quer?
com quantos pregos
desempregos e greves
se vende um apartamento
um liquidificador e um automóvel?
se por ver muito
quantos óculos se compra?
falta de expectativas
tuas tristezas
não me comovem
na verdade incomodam.
queria por exemplo
te ver sorrindo
quando digo que te amo
quando te chamo de meu amor
de meu bemmas tudo isso te assusta!

o mundo não te ensinou
pras coisas bonitas
queres vidros facas cortes
revólveres e cicatrizes.
borges disse
felizes os felizes
e é nisto que eu acredito
na mina literatura
em cada página da minha alma ou pele
eu quero uma palavra amiga
um beijo um toque
estou mais para a canção é para o rockdo que para o ecstasy e o tecnopop.
me poupe e me abrace
por que complicarmos tudo
quando tu queres hambúrguer
eu quero salada de alface.
viver não é fácil
amar não é fácil.
mas hoje
hoje vou te chamar de meu amor
vou te chamar de meu amor em público.
isto vai te incomodar
irás acender um cigarro
olhar pros lados
tomar mais um trago
e eu vou continuar te chamando
de meu amor meu amor meu amor.
assim eu vou ficar a noite inteira
neste microfone
só não vou falar teu nome
por amor.
vou incomodar a todos
que aqui estão presentes
te chamando de meu amor
meu amor meu amor.
aliás já estão todos pertubados
porque o amor perturba e assusta.
muitos dos que aqui estão
neste fim de noite
de século e de milênio
querem estar só
sozinhos e não querendo
batem no peito da angústia
por minha culpa por minha.
oh! meu amor
a europa está triste
a ásia a américameu amor meu amor meu amor
o dono do café vai querer desligar tudo
chamar a polícia a minha mãe e a imprensa
pensa que eu bebi demais
que eu estou tirando a paz
dos consumidores
destilando as minhas dores
num falso poema.
se aqui houver algum crítico literário
com certeza dirá que o amor é piegas
que a paixão não lê
que a paixão é cega
e eu não estou aí pra nada
vou ficar até de madrugada
dizendo meu amor
meu amor meu amor.
o amor é um verbo subversivo
primavera outono
ontem antes de ontem
mataram um índio galdino
queimado vivo
um pataxó
meu amor eu me senti tão só
mataram os tupac amarus no peru
eu senti nojo
eu me senti tão nu
oh! meu amor
a américa está triste
a europa a áfrica
você também
meu amor
meu amor

meu bem!

Nenhum comentário:

Postar um comentário